quinta-feira

Avatar no Xingu? Mundos Antagônicos em 3D

O legendário diretor James Cameron esteve este ano, duas vezes no Brasil para lançar nas versões em DVD e Blu Ray o seu mais novo sucesso cinematográfico mundial - Avatar. Cameron esteve com as lideranças indígenas do Xingu e se envolveu no movimento contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte na região. Esteve com a candidata a presidência do Brasil - Marina Silva e escreveu uma carta ao presidente Lula contra a construção da hidrelétrica no Xingu. Afirmou que levaria a causa às autoridades do seu país - EUA para solicitar apoio político.
A película Avatar sensibiliza o público de forma inovadora utilizando tecnologia 3D de última geração criando belíssimos cenários naturais virtuais onde transcorre o drama do povo nativo Na'Vi habitante do fictício e psicodélico "Planeta Pandora". Em Pandora, a exploração de um precioso minério por uma grande empresa da Terra e experimentos genéticos avançados com os gigantescos Avatares ameaçam a sobrevivência do povo nativo Na'Vi - exóticos gigantes azuis que convivem em completa harmonia com a natureza com suas forças mágicas e sagradas. No blog da ex-candidata Marina Silva tem um post muito bom sobre a relação do filme com a nossa realidade ambiental brasileira: Avatar e a Síndrome do Invasor que me comoveu bastante pela beleza, leveza e originalidade da sua abordagem atual e inteligente sobre as questões ambientais e o drama dos povos da floresta. Marina escreve com simplicidade, mas com muita propriedade sobre o tema e com a vivência de quem conviveu na floresta até os 16 anos de idade junto com sua família. Vale a pena ler este post da Marina. Ela não ganhou nas eleições, mas acredito que a sua expressiva votação contribuirá para que nossa representação política reveja com muito carinho a agenda ambiental brasileira. Vemos então, ficção e realidade se encontrarem nesse grande momento histórico. O governo brasileiro alheio às vozes dos povos nativos autoriza a construção do mega empreendimento público financiado por capital privado multinacional que beneficiará as mesmas elites poderosas e destruirá paulatinamente as poucas reminiscências da nossa Terra, nossos rios, nossa sofrida gente nativa e nossa rica biodiversidade. Vivemos a saga dramática de Avatar na pele e repetimos a história de tantos outros povos nativos e Terras que foram dilacerados pela cancerígena e degradante cultura branca ocidental.
De um lado, mentes e corações afinados com a beleza e as forças mágicas da Terra - os povos nativos, descendentes e defensores da vida que vêem o mundo de forma integrada, gentil e grata. Do outro, vórtices capitalisatas, mercadológicos, sedentos de posses, de poder e cegos de egoismo que vêem o mundo como oportunidades de acúmulos capitais. Mundos antagônicos que se chocam como nas pororocas do Amazonas, mas não se misturam. Um  complexo e injusto jôgo de forças contrárias cuja a resultante é sempre a destruição da vida. Tenho me perguntado: porque sempre a prevalência, a hegemonia dos destruidores? O poder da Terra, da vida, do cosmos, do universo não é maior que a nossa vã ignorância? Porque a demência e o mal está vencendo agora?
A pergunta que se faz urgente é talvez: o que faremos diante desse filme real que desfila à nossa frente? Engolimos Belos Montes, e outros tantos montes de lixo ocidental que enfim matará nosso mundo? Quem dirigirá nosso filme real? Cameron e seus Avateres? os políticos e personalidades veneráveis do primeiro mundo? Precisamos de respostas, de ações e de mudanças significativas. Sabemos o quanto é difícil e complexa toda essa situação, mas nos provoca profundamente. Deixemos Cameron cuidar dos Na'Vi que já está de bom tamanho para sensibilizar a opnião pública mundial, se é que adianta alguma coisa, pois em geral os cinéfilos e cidadões do mundo global estão de olhos bem fixos num mundo imagético fantástico, virtual fabricado pelos senhores de hollliwood que nos hipnotiza em 3D até o próximo lançamento da indústria da fantasia. Enquanto isso o nosso mundo real se desfaz à nossa frente!
Por isso, defendo que possamos resgatar a cosmovisão, modos de vida, a música, o canto e a beleza mítica dos povos nativos das américas que muito têm a nos ensinar sobre beleza, respeito, harmonia e tudo que precisamos para viver bem e conviver em paz. Já se faz tarde a hora de refletirmos sobre o atual modo de vida e organização social e política que só destrói, mata, engana. Uma civilização que requer hoje 50% de recursos naturais a mais do que a Terra pode nos oferecer não pode de forma alguma insistir em solucionar seus dilemas insolúveis com insípidas soluções paleativas ou mega soluções falidas. Ouçamos humildemente as vozes ancestrais, a sabedoria dos nossos antepassados, nossos avós. Ouçamos as vozes da Terra, dos Céus. Seus Cantos em todos os Cantos da Terra e do Cosmos. Caminhemos Livres e voemos como Águias em vôos infinitos em busca do Grande Mistério!
Talvez assim, nossa produção coletiva real seja muito mais fantástica e impressionante do que as megaproduções midiáticas. Salvemos o Xingu agora! Salvemos a Vida. Salvemos nossos parentes nativos. Salvemos o Brasil!

Mitakuye Oyasim !

Nenhum comentário:

Postar um comentário