Estávamos reunidos em círculo, em um belo lugar, numa reserva natural, ao cair da tarde e nos olhávamos calmamente, em silêncio. O flautista tinha uma fisionomia serena, leve e um olhar profundo. Saudou-nos com um sorriso gentil e iniciou sua música na flauta nativa americana. O som suave e exótico fluia pelo ambiente e envolvia a todos. A música tinha algo diferente, mágico, transcendental. Parecia evocar momentos ancestrais e nos transportar a lugares distantes cheios de paz, plenitude e beleza natural. Aquele momento era muito especial e elevado.
Ele tocava com maestria, como se a música viesse do fundo da alma e como se o sôpro na flauta fosse sagrado e viesse de dentro do coração. Ao final o flautista guardou cuidadosamente a flauta entre os braços e de novo olhou serenamente para todos concluindo a sua participação no círculo.
Fiquei por horas e dias reletindo sobre aquele momento, aquela experiência. Tentava manter na mente e no coração aqueles bonitos pensamentos, imagens, sentimentos, emoções que experimentei enquanto apreciava a música nativa americana tocada na flauta. Decidi então escrever algo que registrasse minha vivência e gostaria de compartilhar com vocês, nesse momento, a partir desse texto.
Havia um tempo, no qual viviamos completamente integrados aos fluxos naturais, convivendo em completa harmonia com todos os seres. Naquele tempo, contemplávamos a beleza das paisagens naturais, montanhas, planícies, rios, cachoeiras, mares, os belos momentos do dia, o nascer, o por do sol e à noite apreciávamos as luas em seu momentos e conversávamos afetivamente com todas as estrêlas das constelações.
Naquele tempo, os velhos eram venerados pela sabedoria que acumulavam, as crianças, as mulheres e até os loucos eram respeitados. Não haviam escolas, nem creches e nem hospitais e nem precisavam existir. Porque, naquele tempo não haviam cidades, nem lixo, esgôtos, trânsito, criminalidade e estress, porque tudo isso não existia e também não precisava existir.
Parece até devaneio, mas esse tempo existiu em um longo momento na história de muitos povos que precederam a civilização ocidental que hoje consolidou uma civilização global mergulhada numa crise sem precedentes. Aqueles povos tinham tudo o que precisavam para viver e viviam um modo de vida que respeitava e preservava a vida, suas tradições culturais, e os ambientes naturais.
Hoje, restam ainda reminiscências daqueles povos, que ainda continuam sendo discriminados, desmoralizados, marginalizados, desrreipeitados em seus direitos fundamentais. Com eles podemos ainda aprender muito sobre a sabedoria ancestral de uma gente que tinha alma elevada, coração puro e alegria de viver. Aquela audiência da flauta nativa, me trouxe até esse lugar e a essa gente de paz.
Acredito que podemos guardar no espírito aqueles sentimentos puros, belos e elevados. Deixar esse estado de espírito inaugurar uma nova consciência dentro de cada um de nós. Um estado de espírito e uma consciência que cultive um tempo de paz, de convivência equlibrada e de harmonia dentro de cada um de nós, entre todos os povos, seres, pessoas, nações e com o ambiente natural.
Mitakuye Oyasim - Por todas as nossas relações
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